A jovem que inspirou o texto que você está lendo se
chama Lizzie Velasquez e tem 25 anos, atualmente. Quando nasceu, seis semanas
antes do previsto, Lizzie pesava menos de um quilo e os médicos não tinham boas
perspectivas para seus pais. Lizzie tinha uma síndrome genética rara, sem nome,
da qual só se conhece outros dois casos em todo o mundo. Caso sobrevivesse, ela
não poderia ganhar peso, e dificilmente falaria, andaria ou faria qualquer
coisa que se espera que uma criança ou um adulto saudável faça. Contrariando
toda a perspectiva de uma vida desgraçada, Lizzie não morreu, embora seu peso
nunca tenha passado dos 30 quilos e ela tenha perdido a visão do olho direito e
parte da do esquerdo.
Anda e fala muito bem. É formada em comunicação e
vive como escritora (caminha para o terceiro livro) e oradora motivacional. Mas
as flores no jardim só vieram depois de muito esterco - com o perdão da
expressão. Na escola, como se pode imaginar, teve de lidar com a crueldade do
bullying dos colegas, que a chamavam de monstro, vovó e pele e osso. Ninguém a
queria por perto. Há alguns anos, quando estava no ensino médio, uma pessoa fez
upload no Youtube de um trecho da participação de Lizzie em um programa de TV
quando tinha 11 anos, e intitulou o vídeo de "A mulher mais feia do
mundo".
Um belo dia Lizzie procrastinava os estudos na
frente do computador quando viu uma imagem familiar na barra de vídeos
sugeridos. Os oito segundos do vídeo sem áudio já haviam sido vistos por mais
de 4 milhões de pessoas. Lê todos os comentários, que vão de receitas para que
tirasse a própria vida e impedir que as pessoas ficassem cegas ao ver tamanha
feiúra, a perguntas como por que seus pais não te abortaram? "Cada um deles
era como se o punho daquela pessoa saísse do computador e me acertasse",
ela contou, anos depois.
Eu conheci a história de Lizzie Velasquez por
acaso, na manhã de oito de janeiro de 2014, e fiquei instantaneamente chocado
com as características que fazem da vida dela tão extraordinária. E tão
instantaneamente quis escrever esse texto para falar com as minhas amigas, com
irmãs, tias e sobrinhas, e com qualquer outra mulher que está constantemente a
observar e reclamar sobre as imperfeições em seus corpos que a maternidade, a
falta de dinheiro ou um relacionamento ruim impôs a elas. E que sentem péssimas
por isso.
Por que Lizzie, com tudo o que a vida lhe deu sem
possibilidade de devolução, é capaz de dizer que sua condição é uma benção? Que
agradece a Deus por ter tido oportunidade de viver todas as coisas que tem
experimentado? Por que? Por que Lizzie é tão confiante e tão leve ao falar de
seu problema? Eu tenho uma ideia das razões. Em primeiro lugar, porque é uma
mulher de fé. E a ciência
já tem provado o que a fé é capaz de fazer pela vida das pessoas. Em
segundo, porque Lizzie tem pais incríveis, que a criaram com todo o amor que
outras pessoas rejeitariam a ela durante sua vida. E porque eles, ao contrário
de outras pessoas, conseguiam enxergar nela aquilo que olhos preconceituosos,
falta de amor, curiosidade, compreensão e bondade com o próximo, além de um
conceito de beleza superficial, doentio e cruel alimentado pela mídia, talvez
não nos deixe enxergar: sua verdadeira beleza. A beleza de quem ela é não do
que ela aparenta.
E o que você tem a ver com isso? Eu digo. Você
reclama do que a sociedade impõe e exige de você e acredito que está certa em
fazer isso. Mas comete um equívoco ao permitir que esses padrões a transformem
em algo que você não é. Ao correrem para mesas de cirurgia, para academias, para
dietas insuportáveis meramente por questões de aparência física (e quase nunca
pela saúde). E na sede de alterar essa imagem, esse reflexo desagradável, se
esquece de edificar o mais precioso: a autoestima, essa poderosa combinação de
confiança, determinação e bom humor que fazem de Lizzie a mulher que toda
mulher deveria ser. Pode não ser a mais bela do mundo, mas com certeza faz do
mundo um lugar melhor.
E se nada do que foi dito até aqui foi suficiente,
Lizzie tem um recado pra você:
"Vocês querem saber? Eu tive uma vida
realmente muito difícil. As coisas foram assustadoras, foram pesadas. Mas minha
vida está nas minhas mãos. Eu posso escolher fazer disso algo muito ruim ou
algo muito bom. Eu decidi ser orgulhosa da pessoa que sou, de estar na pele em
que estou. Me sinto especial. Posso não enxergar de um olho, mas enxergo do
outro. Posso ser magra demais, mas meu cabelo é ótimo. E pode ser que eu não
pareça com a Kim Kardashian ou todas essas pessoas nas revistas ou as estrelas
de cinema. Realmente não me vejo assim. Mas não me importa. Ninguém tem que
parecer como uma esplendorosa celebridade. Seja quem é e sinta orgulho disso. A
melhor forma de se vingar daqueles que julgam e te menosprezam é contra-atacar
com seus méritos e conquistas".
Bem, eu convido vocês a digitarem o nome de Lizzie
Velasquez nas buscas do Youtube e do Google. E duvido que se depois de ver os
vídeos de suas palestras e ler suas declarações, ela não passa de um rosto
medonho e de objeto de pena para a imagem da motivação e da esperança. O vídeo mais
recente postado no canal de Lizzie no Youtube, com sua participacao no
TedXAustin Women.
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/les_feuilles/2014/01/quem-tem-medo-de-lizzie-velasquez.html
Por: Felipe Lima
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